Eventos incomuns enquanto Osho esteve no útero de sua mãe
Ainda ontem minha mãe me contava... que quando eu estava com cinco meses em seu útero, aconteceu um milagre.
Ela estava indo da casa de meu pai para a casa do pai dela; e era a estação das chuvas. É costume na Índia, que o primeiro filho nasça na casa do pai materno; assim, embora fosse a estação das chuvas e muito difícil – não havia nenhuma estrada e ela tinha de ir a cavalo –, quanto mais cedo ela fosse, melhor: se ela esperasse mais, então seria ainda mais difícil; assim, ela foi com um dos seus primos.
No meio do caminho, havia um grande rio, o Narmada. Ele estava na cheia. Quando eles chegaram ao barco, o barqueiro viu que minha mãe estava grávida e, então, perguntou ao primo de minha mãe: “Qual é o relacionamento de vocês?”.
Ele não tinha consciência de que estava entrando em apuros. Ele simplesmente disse: “Somos irmão e irmã.”.
O barqueiro recusou; ele disse: “Não posso levar vocês porque sua irmã está grávida – isso significa que vocês não são dois, são três.”.
Na Índia, este é um costume, um velho costume – talvez tenha começado no tempo de Krishna – de que a pessoa não deve viajar sobre as águas, principalmente em um barco, com o filho da irmã. Há o perigo do barco afundar.
O barqueiro disse: “Que garantia existe de que a criança no útero de sua irmã é uma menina e não um menino? Se for um menino, eu não quero me arriscar – porque não se trata apenas da minha vida, sessenta outras pessoas estão indo no barco. Ou vem você, ou vem sua irmã; os dois eu não levo.”.
Em ambos os lados, havia morros e floresta, e o barco só ia uma vez por dia. Ele saía de manhã – e o rio era realmente largo naquele ponto – e voltava à noite. Assim, ou minha mãe tinha de permanecer de um lado, que era perigoso, ou ir para o outro lado, que era tão perigoso quanto. Assim, por três dias, eles continuaram pedindo a ele, implorando, dizendo que ela estava grávida e ele devia ser gentil.
Ele disse: “Não posso fazer nada – isto não se faz. Se você puder me garantir que não é um menino, então, eu o levo; mas como você pode me garantir?”.
Assim, durante três dias, eles tiveram de ficar em um templo que havia por ali. No templo, vivia um santo, muito famoso naqueles dias, naquela região. Atualmente, ao redor daquele templo, há uma cidade que surgiu em memória daquele santo, Saikheda. ‘Saikheda’ quer dizer “a cidade do santo”. ‘Sai’ quer dizer “santo”; ele era conhecido como Sai Baba. Não se trata do mesmo Sai Baba que se tornou mundialmente famoso – Sai Baba de Shirdi – mas eles foram contemporâneos...
Finalmente, minha mãe teve de pedir a Sai Baba: “Você pode fazer alguma coisa? Já estamos aqui há três dias. Eu estou grávida e meu irmão disse ao barqueiro que ele é meu irmão, e ele não quer nos levar no barco. Agora, a menos que você faça alguma coisa, diga algo ao barqueiro, estamos num dilema. O que fazer? Meu irmão não pode me deixar aqui sozinha; eu não posso ir sozinha para o outro lado. Dos dois lados há selvas e florestas e, por pelo menos vinte e quatro horas eu terei de ficar esperando sozinha.”.
Eu nunca me encontrei com Sai Baba, mas de certo modo eu o encontrei: eu tinha cinco meses. Ele simplesmente tocou na barriga de minha mãe. Minha mãe disse: “O que você está fazendo?”. Ele disse: “Estou tocando os pés de seu filho.”. O barqueiro viu isso e disse: “O que você está fazendo, Baba? Você nunca tocou os pés de qualquer um.”.
E Baba disse: “Este não é qualquer um; e você é um tolo – você devia levá-los para o outro lado. Não se preocupe. A alma que está dentro deste útero é capaz de salvar milhares de pessoas; assim, não se preocupe quanto às suas sessenta pessoas. Leve-a!”.
Então, minha mãe diz: “Naquele dia, fiquei sabendo que estava carregando alguém especial.”. Eu disse: “Tanto quanto posso compreender, Sai Baba era um sábio: ele simplesmente enganou o barqueiro! Não há milagre nenhum, não há nada. E os barcos não afundam só porque alguém está viajando com o filho da irmã. Não há nenhuma racionalidade na idéia, é puro absurdo. Talvez, alguma vez, acidentalmente, possa ter acontecido e, então, tornou-se uma idéia rotineira.”.
Meu entendimento é que a origem vem da vida de Krishna: os astrólogos disseram ao irmão da mãe de Krisna que “um dos filhos de sua irmã o matará”. Ele, então, manteve sua irmã e seu cunhado na prisão. Ela deu a luz a sete filhos, sete meninos, e ele os matou a todos. O oitavo foi Krishna e, é claro, quando o próprio Deus nascera, o cadeado da prisão se abriu e os guardas dormiram profundamente; e o pai de Krishna o tirou dali.
O rio Yamuna era a fronteira do reino de Kansa. Kansa era a pessoa que estava matando os filhos de sua irmã com medo de que um dos filhos viesse a matá-lo. O Yamuna estava na cheia – e ele é uma dos maiores rios da Índia. O pai de Krishna estava com muito medo, mas, de algum modo, o filho tinha de ser levado para o outro lado, para a casa de um amigo, cuja esposa tinha tido uma menina; assim, ele poderia trocá-los. Ele traria a menina de volta com ele, porque no outro dia Kansa estaria lá perguntando pela criança, planejando matá-la. Uma menina ele não mataria – tinha de ser um menino.
Mas como cruzar aquele rio? Não havia barcos à noite, mas ele tinha de ser cruzado. Mas quando Deus pode abrir cadeados sem chaves, sem ninguém abri-los... Eles simplesmente se abriram, as portas se abriram, os guardas caíram no sono – Deus certamente faria alguma coisa.
Assim, ele pôs o filho numa caçamba em cima de sua cabeça e passou pelo rio – alguma coisa parecida com o que aconteceu a Moisés, quando o oceano se dividiu. Desta vez aconteceu do jeito indiano. Não poderia ter acontecido a Moisés, porque o oceano não era indiano, mas este rio era.
Assim que ele entrou no rio, o rio começou a subir mais. Ele estava com muito medo: o que estava acontecendo? Ele esperava que o rio abaixasse, mas ele começou a subir. Chegou a um ponto em que tocou os pés de Krishna e, então, recuou. Este é o jeito indiano, não pode acontecer em nenhum outro lugar. Como o rio poderia perder tal fato? Quando Deus nasce e passa através dele, apenas dar passagem não é o bastante, não é gentil.
Desde aquele tempo, existe essa idéia de que há um certo antagonismo entre uma pessoa e o filho de sua irmã, porque Krishna matou Kansa. O rio foi cruzado, ele abaixou suas águas – favoreceu à criança. Desde então, os rios têm raiva de tios maternos – todos os rios da Índia. E essa superstição é levada até hoje.
Eu disse à minha mãe: “Uma coisa é certa: que Sai Baba deve ter sido um sábio e tinha um certo senso de humor.”. Mas ela não daria ouvidos. E o que aconteceu ficou conhecido na cidade. E, para apoiar isso, depois de um mês, uma outra coisa aconteceu... Na vida, há tantas coincidências, que a partir delas você pode fazer milagres. Uma vez que você esteja inclinado a fazer um milagre, então, qualquer coincidência pode virar um milagre.
Depois de um mês, houve uma grande enchente. E, em frente da casa de minha mãe, na estação das chuvas, tudo ficava quase como um rio. Havia um lago, e uma pequena estrada entre o lago e a casa, mas na estação das chuvas vinha tanta água, que a estrada ficava completamente como um rio. O lago e a estrada fundiam-se numa coisa só. Ficava quase oceânico – tanto quanto se podia ver, era só água. E naquele ano, talvez a Índia tenha tido as maiores enchentes já ocorridas.
Enchentes acontecem comumente todos os anos na Índia, mas, naquele ano, notou-se uma coisa estranha: que as enchentes começaram a reverter o fluxo da água dos rios. As chuvas foram tão fortes, que o oceano não foi capaz de receber a água tão rapidamente na proporção em que elas vinham; assim, a água parava em frente ao oceano e começava a refluir. Onde pequenos rios desaguam nos rios maiores, os rios maiores recusavam receber a água, porque eles não estavam podendo nem mesmo conter a própria água. Os pequenos rios começavam a retroceder.
Eu nunca vi isso – isso também eu perdi –, mas minha mãe diz que foi um fenômeno estranho ver a água retrocedendo. E ela começou a entrar nas casas; entrou na casa de minha mãe. Eram dois pavimentos e o primeiro ficou cheio de água. Então, começou a entrar no segundo pavimento. Agora, não havia para onde ir; assim, ficaram todos em cima das camas, o lugar mais alto possível. Mas minha mãe disse: “Se Sai Baba estava certo, então, alguma coisa acontecerá.”. E deve ter sido uma coincidência que a água chegou até o estômago de minha mãe e depois recuou!
Esses dois milagres aconteceram antes de eu nascer; assim, eu não tenho nada a ver com eles. Mas eles ficaram conhecidos; quando eu nasci, eu era quase um santo na cidade! Todo mundo tinha muito respeito; as pessoas ficavam tocando meus pés. Até os velhos! Contaram-me mais tarde sobre isso : “toda a cidade aceitou-o como um santo”.
From Misery to Enlightenment, #14
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