Eu não sou a favor da obediência como tal – ela é um valor militar - mas sou com certeza a favor da entrega. A entrega é um caso de amor. A obediência é um fenômeno social – o amor é individual. Você ama uma mulher, ama um homem... entregue-se. E quando você estiver se entregando, lembre-se: a entrega não é à mulher, a entrega não é ao homem: a entrega é ao incorpóreo Deus do amor – os dois estão se entregando ao amor. Assim, não se trata de uma questão de dominação: no amor verdadeiro não há nenhuma dominação, absolutamente. O homem rendeu-se ao amor, a mulher rendeu-se ao amor – agora o amor penetra seus seres.
O Mestre já está entregue a Deus, o discípulo também se entregou a Deus – agora o amor, ou Deus, permeia seus seres.
Isso não é a obediência comum, ordinária; não tem nada a ver com a obediência que nos contaram, nos ensinaram, nos condicionaram. Trata-se de um fenômeno totalmente diferente, muito misterioso. Quando duas pessoas se entregam ao amor, e o amor toma posse delas, ninguém é dominador e ninguém é dominado, ninguém está mais elevado do que o outro. Na verdade, nenhum dos dois existe. E então, algo sumamente importante começa a acontecer: Deus começa a acontecer. Então, ambos falam a mesma linguagem, porque eles estão sintonizados – os dois na mesma extensão de onda.
Do lado de fora pode parecer como obediência, mas não é. Lembre-se, quando você estiver contemplando sobre Pitágoras, o que ele quer dizer com “seja um bom filho”. Ele não quer dizer ‘seja um filho obediente’; ele simplesmente quer dizer “seja um filho entregue”. Quando diz “seja uma boa esposa”, ele não quer dizer o que se entende por ‘seja uma boa esposa’ ou ‘um bom marido’: ele simplesmente quer dizer “entregue-se ao amor”. Por “Seja um bom pai, um bom irmão”, ele não quer dizer, o que se entende por aí, que é permita ser dominado; ele simplesmente quer dizer “entregue-se ao amor”.
Deixe o amor tornar-se a sua vida toda. Se você é um filho, deixe o amor se dirigir ao pai; deixe o pai se tornar o veículo de amor. Se você for um pai, por sua vez, deixe o filho tornar-se o veículo de amor.
Estes são exatamente pretextos para nos entregarmos: filho, pai, marido, esposa, amigo, Mestre – são apenas pretextos. Como não podemos nos entregar a um Deus sem face – ainda não somos capazes disso – então, temos de achar um pretexto, alguma saída. O Mestre é visível – o discípulo pode render-se ao Mestre. Mas a entrega é na verdade em direção a Deus. Quando o discípulo vê Deus no Mestre, somente então, a entrega acontece. O homem pode entregar-se à sua amada, mas a entrega é possível somente quando ele viu na amada algo do desconhecido, do misterioso – Deus vem na forma da amada, ou do amado.
A entrega é um valor espiritual; a obediência é um valor político. E tenha cuidado com todas as espécies de políticos.
Osho, Philosophya Perennis, # 2
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