O casamento dos pais de Osho
Hajji Baba do Paquiistão, que agora(*) está perto dos cento e dez anos de idade, estava presente no casamento de meus pais, e ele tinha vindo acompanhando a festa de casamento até a cidade de minha mãe. Isso criou um grande reboliço em toda a comunidade jaina, porque é uma tradição que, quando o noivo chega à casa da noiva, eles têm de ser recebidos na fronteira da cidade, e o chefe da família tem receber uma guirlanda de flores. Um turbante, um turbante muito valioso, deve ser colocado em sua cabeça, lindos sapatos feitos de veludo colocados em seus pés. E lhe é dado um robe, especialmente feito para ele.
Meu avô (paterno) disse: “Hajji Baba é o chefe de nossa família.”. Ora, um muçulmano, chefe de uma família jaina! O pai de minha mãe ficou perplexo – o que fazer? Hajji Baba dizia: “Não faça isso!”. Mas meu avô nunca foi de ouvir ninguém. Ele disse: “Não interessa! Mesmo que tenhamos de voltar, voltaremos! Mas você é o chefe de minha família. Eu sempre fui seu irmão mais novo. Como posso eu ser recebido quando você está aqui?
Não houve outro jeito; o pai de minha mãe teve de receber Hajji Baba como o chefe da família.
(*) 1985
From Misery to Enlightenment, #05
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No passado, havia crianças casadas antes dos dez anos de idade. Às vezes, as crianças se casavam quando ainda estavam no útero da mãe. Bastava dois amigos decidirem que “assim que nossas esposas engravidarem, se uma der nascimento a um menino e a outra a der nascimento a uma menina, então, o casamento está acertado, prometido”. Absolutamente não havia a questão de se perguntar ao menino e à menina. Eles ainda nem tinham nascido. Nem se sabia ainda se seriam duas meninas ou dois meninos. Mas, se um fosse menino e a outra uma menina, o casamento estava acertado. E as pessoas mantinham suas palavras – suas promessas.
Minha própria mãe casou-se quando tinha sete anos de idade. E os pais dela tiveram que amarrá-la numa pilastra dentro da casa, quando a festa do casamento estava chegando(**) . E havia muitos fogos de artifício. E na recepção havia música e dança. E todos estavam do lado de fora da casa, e minha mãe lembrando-se do momento me disse: “Eu não entendia por que somente eu tinha sido deixada dentro da casa, e amarrada! Eles não me deixaram sair.”. Ela não tinha nenhuma compreensão do que era um casamento. Ela queria ver, como qualquer criança, tudo de lindo que estava acontecendo lá fora – a vila toda estava reunida, e ela estava chorando.
Meu pai não tinha mais de dez anos de idade, e não tinha nenhuma compreensão do que estava acontecendo. Eu lhe perguntei: “Qual foi a coisa mais significativa, o que você mais gostou no seu casamento?”.
Ele dizia: “Andar a cavalo.”. Naturalmente, pela primeira vez ele estava vestido como um rei, com uma faca presa a seu lado. E estava sentado num cavalo, e todos andavam a seu redor. Ele adorou aquilo. Foi a coisa mais importante, o que ele mais apreciou no seu casamento.
Lua-de-mel era fora de questão. Para onde se mandaria um garoto de dez anos e uma garota de sete em lua-de-mel? Assim, na Índia, a lua de mel nunca existiu e, no passado, em nenhum outro lugar do mundo tampouco.
E quando meu pai tinha dez anos de idade e minha mãe sete, o pai de minha mãe morreu... Depois do casamento, talvez um ou dois anos depois, toda a responsabilidade recaiu sobre minha mãe, que tinha apenas nove anos. O pai de minha mãe deixou duas irmãs pequenas e dois meninos pequenos. Assim, quatro crianças, e a responsabilidade sobre uma garota de nove anos e um garoto de doze anos.
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(**)A mãe de Osho ficou retida porque era costume os noivos não se verem antes da cerimônia.
Sat Chit Anand, # 15
Meu avô (paterno) jamais gostou de viver na cidade onde tinha sua loja. Ele adorava o campo. Ele possuía belos cavalos. E, quando sua esposa morreu, ele ficou absolutamente livre. Vocês não vão acreditar, mas, no seu tempo – e não faz muito tempo assim –, o governo dava terra para as pessoas de graça. Porque havia muita terra, e não havia muita gente para cultivá-la.
Assim, meu avô ganhou do governo cinqüenta acres de terra, de graça. E ele adorava viver dezesseis milhas distante da cidade, onde deixara a loja nas mãos de seus filhos – meu pai e minha mãe – que estavam com apenas doze e nove anos. E ele se regozijava cultivando um jardim, criando uma fazenda. Ele adorava viver lá, a céu aberto. Ele detestava a cidade.
Ora, como pensar que pudesse haver algum abismo entre gerações? Meu pai jamais teve qualquer experiência da liberdade dos jovens de hoje em dia. Ele nunca foi jovem dessa maneira. Antes de ficar jovem, ele já era velho, tomando conta de seus irmãos mais novos e das irmãs e da loja. E, por volta dos vinte anos, teve de arranjar casamentos para suas irmãs e educação para seus irmãos.
Jamais chamei minha mãe de “mãe”, porque antes de eu nascer ela cuidava de quatro crianças que a chamavam de Bhabhi. ‘Bhabhi’ quer dizer “irmão da esposa”.
E como as quatro crianças já chamavam minha mãe de bhabhi, eu também comecei a chamá-la de bhabhi. Até hoje, eu a chamo de bhabhi, mas ela é minha mãe, não a esposa de meu irmão. E eles tentaram fortemente me fazer mudar, mas para mim era muito natural chamá-la de bhabhi. Todos os meus irmãos e irmãs a chamam de mãe. Somente eu sou louco o suficiente para chamá-la de ‘bhabhi. Mas eu aprendi assim desde cedo, quando as outras quatro crianças...
E, assim, eu tive uma comunicação próxima com meus tios e com as irmãs de meu pai, uma camaradagem. Eles eram um pouco mais velhos do que eu, mas a distância não era muita. Nunca pensei em respeito. Eles nunca pensaram em respeito a ser recebido. Eles me amavam, eu os amava.
Era um mundo totalmente diferente há apenas setenta anos. As gerações eram superpostas, e não havia mocidade.
Sat Chit Anand, #15
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Meu diabetes é minha herança. Meu bisavô tinha diabetes, meu avô também, meu pai também; eu tenho, todos os meus tios têm, todos os meus irmãos têm. Parece ser algo intrínseco; assim, ela não pode ser curada – só pode ser mantida sob controle.
The Last Testament, #17
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